No quinto episódio da série especial do podcast Crianças Sabidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o foco é um tema que mobiliza cada vez mais as crianças: o meio ambiente. A partir de áudios enviados por ouvintes mirins, o episódio mostra que cuidar do planeta já é uma preocupação central da nova geração ? e urgente para o presente.
A conversa passa pelos seis ODS ligados às questões ambientais: água e saneamento (ODS 6), energia limpa (ODS 7), cidades sustentáveis (ODS 11), ação contra a mudança climática (ODS 13), vida na água (ODS 14) e vida terrestre (ODS 15). Com perguntas diretas, exemplos do cotidiano e explicações acessíveis, a pequena Maria Eduarda Arcoverde, a ?perguntadeira?, e a jornalista Akemi Nitahara ajudam a traduzir temas complexos ? sem perder profundidade.
O episódio também contextualiza o ano da COP30 no Brasil, realizada em Belém, destacando a participação inédita de crianças nas discussões sobre o futuro do planeta. Especialistas como Enid Rocha, do Ipea, explicam avanços e desafios do país no cumprimento das metas ambientais, enquanto falas de lideranças políticas e ativistas mirins mostram como decisões globais impactam diretamente a vida das crianças.
O quinto episódio do Crianças Sabidas convida crianças e adultos a refletirem juntos sobre como proteger o planeta hoje para garantir o amanhã ? lembrando que os efeitos das mudanças climáticas já fazem parte da infância atual.
? Ouça o quinto episódio: O podcast Crianças Sabidas é uma produção original da Radioagência Nacional.
??Os episódios também estão nas principais plataformas de áudio.
? Você pode conferir, no menu abaixo, a transcrição do episódio, a tradução em Libras e ouvir o podcast no Spotify, além de checar toda a equipe que fez esse conteúdo chegar até você.
VINHETA CRIANÇAS SABIDAS?
SUBVINHETA: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
SOBE SOM?
SUBSUBVINHETA: Episódio 5 - Meio ambiente
MADU: Oi gente, chegamos ao nosso quinto episódio da série sobre os ODS e vamos falar da principal preocupação das crianças de hoje em dia: o meio ambiente.
AKEMI: Como você sabe que a principal preocupação das crianças é o meio ambiente? Além de você ser criança e também estar preocupada com isso, claro...
MADU: A gente pediu pra vários amiguinhos e amiguinhas enviarem áudios respondendo à pergunta: ?o que precisa melhorar no mundo em cinco anos?? E mais da metade dos áudios que chegaram foi sobre a importância de cuidar do planeta e da natureza. Como o João Victor:
JOÃO VICTOR: Meu nome é João Victor, tenho 13 anos. Pro mundo ser melhor, precisamos cuidar da natureza e das pessoas.
AKEMI: Realmente, foram muitas mensagens sobre diversas questões que envolvem o meio ambiente. Em ano de COP30 no Brasil, esse foi um tema muito quente mesmo. A trigésima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima aconteceu em Belém, capital do Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro.
MADU: Foram mais de 50 mil pessoas nas discussões oficiais em Belém. E o evento da sociedade civil, a ?Cúpula dos Povos?, reuniu 70 mil participantes de movimentos sociais e organizações ambientais, incluindo 5 mil indígenas. E teve um dia dedicado a nós, crianças. Pela primeira vez, pudemos participar das discussões que dizem respeito ao nosso futuro.
AKEMI: O documento final da COP30 trouxe 120 planos de aceleração das iniciativas climáticas, com a participação de 190 países.
MADU: Lembram lá da série Trilhinhas Amazônicas? Os jovens todos falaram que o problema do aquecimento global não se trata mais de deixar um mundo melhor para os nossos filhos. Somos nós mesmos que vamos sofrer com as consequências das mudanças climáticas. Principalmente nós, crianças de hoje.
AKEMI: Já estamos todos sofrendo, né? Com ciclones extratropicais, ondas de calor e secas intensas... Se não ouviu a série ainda, procura aí no seu tocador ou na página da Radioagência Nacional: Crianças Sabidas Trilhinhas Amazônicas. São três episódios e está bem legal, a gente adaptou a série Trilhas Amazônicas, do Rafael Cardoso, que escreveu pra Agência Brasil e gravou como podcast aqui pra gente também, com sete episódios sobre os desafios que a maior floresta tropical do mundo enfrenta atualmente.
MADU: Tá, mas vamos nos apresentar, né? Eu sou Maria Eduarda Arcoverde, a perguntadeira.
AKEMI: E eu sou Akemi Nitahara, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação.
MADU: Então vamos lá. São seis ODS que tratam do meio ambiente. O primeiro é o ODS 6:
NALU: Água limpa e saneamento ? o que é saneamento?
MADU: Temos mais uma perguntadeira hoje? As crianças querem ficar tão sabidas que a locutora dos ODS já fez a pergunta junto.
AKEMI: Ótima pergunta, Nalu. Vamos trazer a resposta de quem entende do assunto. De acordo com o Instituto Trata Brasil, saneamento ?é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde, melhorar a qualidade de vida da população e a produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica?.
MADU: Eita, que isso não explicou direito... eu entendi que o saneamento é importante pra saúde e pro meio ambiente, mas não entendi o que é. Dá pra falar mais fácil?
AKEMI: Umm, deixa eu tentar aqui... Afinal, jornalista serve pra isso também, né? Explicar as coisas de um jeito mais simples. Vamos lá... A gente chama de saneamento básico o conjunto de serviços que garantem o abastecimento de água limpa e tratada pra população e a coleta e tratamento do esgoto que sai das casas, fábricas, escritórios... Também entra aí a coleta de lixo e a destinação correta dos resíduos sólidos, tipo levar para os aterros sanitários adequados e separar o que pode ser reciclado. Tem ainda a limpeza urbana, obras para as águas da chuva não alagarem as cidades...
MADU: Isso tudo é muito importante mesmo para saúde e pro meio ambiente. A água tem que chegar limpa pra gente usar e depois tem que voltar limpa pra natureza, né? E como o Brasil está caminhando nesse ODS?
AKEMI: De acordo com o Relatório Nacional Voluntário, que é feito pela Comissão Nacional dos ODS, com ajuda do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, o Ipea, o Brasil melhorou nesses indicadores. O acesso à água segura passou de 95,1% em 2015 para 97,9% em 2022. Mas o tratamento de esgoto doméstico só chegou a 50,2% da população.
MADU: Ainda tem muito o que melhorar... vamos para o próximo, o ODS 7:
HELENA: Energia acessível e limpa
DANTE: Oi, meu nome é Dante, eu tenho 8 anos e eu queria que o mundo ficasse menos poluído.
AKEMI: É Dante, muito importante isso. Uma das principais fontes de poluição é o transporte, com os carros e aviões consumindo energia fóssil, ou seja, que vem do petróleo. No Brasil, a maior parte da energia elétrica vem das usinas hidrelétricas, que é uma fonte limpa e renovável. Mas em países como a China, por exemplo, a eletricidade vem de usinas a carvão, que emitem muitos gases do efeito estufa.
MADU: Então o Brasil já alcançou essa meta?
AKEMI: A Enid Rocha, pesquisadora do Ipea, disse que sim.
ENID: No caso do ODS 7, né, que é o ODS da energia, a gente sempre tem muito orgulho de falar, né, que o Brasil é aquele que tem a energia limpa, tal qual se fala no ODS. O Brasil também em relação ao ODS 7, ele já alcançou a maior parte das metas, é um ODS que a gente tá indo realmente assim, né, muito bem mesmo. Na verdade, no ODS 7 a gente tem sete metas e o Brasil já alcançou cinco delas, né?
AKEMI: O relatório aponta que 99,8% dos domicílios brasileiros tem acesso aos serviços de energia, sendo que 47,4% sendo de fontes renováveis. Aqui entram programas como o Luz para Todos e os Leilões de Energia Renovável.
MADU: Próximo, ODS 11:
HELENA: Cidades e Comunidades Sustentáveis
HELENA: Helena Santos Figueiredo Monteiro e eu tenho 7 anos. Eu acho que deve tá bem velha as casa, bem sem pintado, vai tá desse jeito. As árvores, elas já vão tá cortadas e isso.
MADU: A Helena está bem pessimista...
AKEMI: Vamos ouvir o que a Enid diz sobre isso.
ENID: O ODS 11, cidades resilientes que são os ODSs que dialogam e que requerem muito, por exemplo, tem a coisa da gente ter protocolos para situações de emergência, né, das crises climáticas. Então, os relatórios mostram que o Brasil precisa avançar muito e praticamente não alcançou nenhuma das metas, né? Além de não ter alcançado, nós não temos indicadores, né, em muitos ODS ambientais, para que a gente possa realmente fazer qualquer afirmação, né, sobre ele.
MADU: Então a Helena tem razão em estar pessimista... As cidades não estão preparadas mesmo, viram o tornado que destruiu uma cidade no Paraná em novembro e o ciclone que deixou milhões de pessoas sem luz em São Paulo, agora em dezembro?
AKEMI: Realmente, mas alguma coisa melhorou sim... De acordo com o relatório, o número de cidades com estratégias locais de redução de risco de desastres passou de 33,8% em 2017 para 47% em 2020.
MADU: Vamos ao ODS 13:
HELENA: Combate as alterações climáticas
IVAN: Oi, meu nome é Ivan. Daqui a 5 anos eu vou ter 16 anos. Eu queria que não tivesse mais a poluição marítima nos mares e rios e as pessoas não poluíssem tanto a atmosfera com carros e animais, peido de vaca.
MADU: A gente teve a COP aqui, não é possível que não tenha melhorado nisso!
ENID: Quando o IPEA analisa cada uma das metas e o cumprimento, a gente mostra porque que foi possível avançar em determinada meta e por que não, né? Então, a gente sempre acopla aquela política principal que fez com que o Brasil avançasse naquela área, né? Quais foram as ações. Mas também quando não tem nada, que foi no relatório passado foram muitos os casos, principalmente da área ambiental, né? Que a gente tinha poucas ações, não que existisse um número reduzido de ação, mas elas não estavam, é, eficazes, né? Para fazer o que era necessário para a gente alcançar a meta. Mas, por exemplo, até as metas ambientais agora, né, o Brasil volta a assumir o protagonismo das questões climáticas, reativou o fundo Amazônia, retomou planos de adaptação, vai sediar a COP em Belém. Então isso tudo recoloca o país no centro das negociações ambientais, né? E mostra que a gente tá tendo esse crescimento do PIB, mas que a proteção ambiental tá na pauta do país, né? Então tudo isso a gente vai ver agora na análise desse relatório.
AKEMI: Olha, o relatório não é animador sobre isso... As emissões de gases de efeito estufa aumentaram 13,73% de 2016 para 2020. Agora, vamos ver ser as coisas avançam. Vamos ouvir as promessas do presidente Lula na abertura da COP30:
LULA: Lançamos o Fundo de Floresta Tropical Para Sempre, um mecanismo inovador que angariou num só dia u$ 5,5 bilhões em anúncio de investimento. Adotamos compromissos coletivos sobre o manejo integrado do fogo, o direito à posse da terra por povos indígenas e tradicionais, a quadruplicação da produção de combustível sustentável, a criação de uma coalizão sobre mercado de carbono e o alinhamento da ação climática ao combater fome e a pobreza e mais e a luta contra o racismo ambiental.
AKEMI: O Brasil também prometeu reduzir, até 2030, entre 59% e 67% das emissões de gases de efeito estufa e conseguiu reduzir pela metade o desmatamento na Amazônia nos dois últimos anos.
MADU: Então vamos manter a esperança... o próximo ODS do meio ambiente é o 14:
NALU: Vida debaixo da água
AKEMI: Quem mandou áudio sobre isso foi a Letícia, de 9 anos. Ela é uma criança atípica, então o pai dela, o Pedro, ajuda a gente a entender melhor o que ela fala.
LETÍCIA e PEDRO: O meu nome é Letícia, [Letícia] tenho 9 anos. [O que que a gente precisa cuidar da natureza?] Do sol. [Do sol? Sim, do sol. [Porque tá ficando muito quente?] Sim. [Que mais?] Da água. [Da água?[ De água. [Dos rios e do mar?] Sim, do rio e do mar. [Porque a gente usa água para que?] Para beber. [Para beber. E tem peixinhos que moram na água também, né? A gente faz o que com o peixinho?] Come. [E a gente tem que deixar tudo bem limpinho.] Uhum.
AKEMI: Nesse ODS, o relatório mostra avanços. O Brasil tem 26,3% das áreas marinhas protegidas, proporção maior do que a meta da ONU. O combate à pesca ilegal foi fortalecido com a entrada do Oceano e da Zona Costeira na política climática nacional. E o país investiu no Fundo da Marinha Mercante, para estimular a construção de embarcações com tecnologia e combustível sustentáveis.
MADU: Muito bom! O último ODS do meio ambiente é o 15:
HELENA: Vida sobre a terra
ISABELA: Oi, meu nome é Isabela. Eu tenho 7 anos. Para ter um mundo melhor nos próximos 5 anos, é preciso cuidar do meio-ambiente e preservar nossas florestas. Se nada for feito hoje, poderemos ter um planeta mais quente, sem alguns animais, com mais doenças e falta de água. Portanto, devemos preservar nossas florestas. Tchau.
AKEMI: A Isabela falou tudo! Nesse ponto, a Enid explicou que o Brasil criou mais metas que não tinham no ODS.
ENID: A gente vai dimensionando cada uma das metas. E chega o caso, por exemplo, né? Você vê o Brasil, ele é um país que tem rios, né? A gente tem aqui o Rio Amazonas, essas grandes, mapa hidrológico, com todos esses rios e a gente não tem nas metas globais nenhuma meta que fala especificamente dos rios, da importância da pesca artesanal que nós temos no Brasil. Então, nesse caso, a gente criou uma meta para isso, né, dentro do ODS 15, que é o ODS das florestas.
AKEMI: O Brasil freou um pouco a derrubada das florestas. Em 1990, 70,46% do território eram cobertos por floresta, isso caiu para 60,29% em 2015 e em 2020 diminuiu só um pouquinho, chegando a 59,42%. Por outro lado, melhorou a gestão sustentável, o controle do desmatamento e o reflorestamento.
MADU: Precisamos dar um jeito nisso! Cadê aquela ativista mirim que participou do primeiro episódio?
MAVI: Meu nome é Maria Vitória Brilhante, mais conhecida como Mavi. Eu tenho 12 anos, sou uma ativista ambiental mirim e fui a criança mais jovem da delegação brasileira a palestrar na COP28 em Dubai.
AKEMI: Bem lembrado, Madu, a Mavi é ótima! E mobiliza muitas crianças pra cuidar do planeta.
MAVI: Eu tinha sido nomeada embaixadora do Dia Mundial da Limpeza aqui de João Pessoa, juntei mais de 700 pessoas para vir limpar a praia no Dia Mundial da Limpeza, inclusive foi muito legal, participei de algumas ações e fui chamada para palestrar sobre alfabetização contra as mudanças climáticas e a importância dos jovens no meio ambiente lá na COP 28 em Dubai.
MADU: Precisamos de mais Mavis pra salvar o planeta!
AKEMI: Muito bem, Madu. Você pode começar em casa, separando o lixo reciclável do orgânico. Ou usando sacolas de pano para fazer as compras, em vez de usar as de plástico. E levar uma garrafinha ou copo reutilizável para beber água na escola. Ou fazer um movimento na escola para separar os papéis, plásticos, vidros e metais recicláveis e entregar para uma cooperativa. Chamar os amigos para limpar uma praça que vocês gostem e plantar árvores nela.
MADU: É, todo mundo pode fazer alguma coisa pelo meio ambiente. Vou conversar com minhas amigas pra gente combinar uma ação. Mas, por hoje, vamos ficando por aqui.
CRÉDITOS
MADU: Este foi o quinto episódio do nosso podcast sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Eu sou a Maria Eduarda Arcoverde, a perguntadeira. O Crianças Sabidas é uma produção original da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC, a Empresa Brasil de Comunicação.
AKEMI: A reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem foram minhas, Akemi Nitahara.
Edição e coordenação de processos de Beatriz Arcoverde, que também faz a implementação web junto com Lincoln Araújo.
Caio Freire Cardoso Oliveira, de 11 anos, grava o título dos nossos episódios.
Helena Dor e Nalu Sol, as duas de sete anos, gravaram os ODS.
Trabalhos técnicos de Jaime Batista e Tony Godoy.
Interpretação em Libras da equipe de tradução da EBC.
A música tema original do Crianças Sabidas é de Ricardo Vilas.
Também usamos composições de Newton Cardoso para o banco de trilhas de EBC e Mamãe Natureza de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
MADU: No penúltimo episódio da série sobre os ODS, vamos falar sobre desenvolvimento, indústria e trabalho. Tchau, tchau!
Apresentação, entrevistas, reportagem, roteiro e montagem
Ricardo Vilas